quarta-feira, 3 de agosto de 2011

NA FLORESTA



Na floresta não existe nem rebanho nem pastor

Quando o inverno caminha
Segue seu distinto curso como faz a primavera
Os homens nasceram escravos daquele que repudia a submissão
Se ele um dia se levanta e lhes indica o caminho
Com ele caminharão
Dá-me a flauta e canta
O canto é o pasto das mentes 
E o lamento da flauta perdura mais que rebanho e pastor.

Na floresta não existe ignorante ou sábio.
Quando os ramos se agitam a ninguém reverenciam.
O saber humano é ilusório 
como a serração dos campos que se esvai quando o sol se levanta no horizonte.
Dá-me a flauta e canta,
O canto é o melhor saber
E o lamento da flauta sobrevive ao cintilar das estrelas.

Na floresta só existe lembrança dos amorosos.
Os que dominaram o mundo e oprimiram e conquistaram
os seus nomes são como letras dos nomes dos criminosos.
Conquistador entre nós é aquele que sabe amar.
Dá-me a flauta e canta
E esquece a injustiça do opressor.
Pois o lírio é uma taça para o orvalho
E não para o sangue.

Na floresta não há crítico nem censor
Se as gazelas se perturbam quando avistam o companheiro
a águia não diz: que estranho.
Sábio entre nós é aquele que julga estranho apenas o que é estranho.
Ah, dá-me a flauta e canta
O canto é a melhor loucura 
e o lamento da flauta sobrevive aos ponderados e aos racionais.

Na floresta não existem homens livres ou escravos.
Todas as glórias são vãs como borbulhas na água.
Quando a amendoeira lança suas flores sobre o espinheiro não diz:
“Ele é desprezível e eu sou um grande Senhor.”
Dá-me a flauta e canta
que o canto é glória autentica
E o lamento da flauta sobrevive
Ao nobre e ao vil.

Na floresta não existe fortaleza ou fragilidade
Quando o leão ruge não dizem:“Ele é temível.”
A vontade humana é apenas 
uma sombra que vagueia no espaço do pensamento 
e o direito dos homens fenece
como folhas de outono.
Dá-me a flauta e canta
O canto é a força do espírito
E o lamento da flauta sobrevive ao apagamento dos sóis.

Na floresta não há morte nem apuros.
A alegria não morre quando se vai a primavera.
O pavor da morte é uma quimera que se insinua no coração,
pois quem vive uma primavera é como se houvesse vivido séculos.
Dá-me a flauta e canta
O canto é o segredo da vida eterna
E o lamento da flauta permanecerá
Após findar-se a existência.
K. Gibran

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

CASAMENTO INDISSOLÚVEL OU RELAÇÃO SEXUAL DURADOURA – WILHELM REICH

(notas de leitura – Carlos Roberto Nazaré)

A estrutura sexual humana sofreu uma degenerescência sob o efeito da moral compulsiva.

“Para o inconsciente dos indivíduos aterrorizados com a sexualidade, a certidão de casamento não é senão uma licença para terem relações sexuais.”

Solução:
a) Eliminação dos sentimentos de culpabilidade relativos à sexualidade;
b) Substituição da moralidade compulsiva exterior pela responsabilidade interior e pessoal.

O casamento sob a atual forma compulsiva é o resultado de um compromisso entre interesses econômicos e interesses sexuais.

Os interesses sexuais não se reduzem a relações sexuais com uma única pessoa por toda a vida e à procriação.

A relação radicada em necessidades sexuais tende a tornar-se duradoura.

A relação radicada em interesses econômicos e na posição da mulher e dos filhos na sociedade tende para o casamento compulsivo indissolúvel.


RELAÇÃO SEXUAL DURADOURA – condições sociais necessárias para sua ocorrência:
a) Independência econômica da mulher;
b) Educação das crianças pela sociedade;
c) Não interferência de interesses econômicos.

Ocasionalmente podem ocorrer relações temporárias e de caráter predominantemente sensual com terceiros.

A promiscuidade sexual é caracterizada pela relação sexual temporária desprovida de qualquer fundamento emocional e com caráter mercenário.

A relação sexual passageira, seja a relação de uma hora ou de uma noite, difere da relação duradoura pela ausência generalizada de ternura para com a(o) parceira(o).

Os dois elementos fundamentais da relação sexual natural são:
1) Gratidão pelo prazer sexual do passado;
2) Vínculo sexual e emotivo radicado no prazer que se espera vir a fruir no futuro.
O resultado é uma afeição sexual de experiências sensuais tidas em comum.

Uma ligação devida à insatisfação sexual consiste em uma sobrevalorização do parceiro com origem numa inibição sensual e numa expectativa inconsciente de uma determinada forma de satisfação sexual. Transforma-se facilmente em ódio.

As atitudes de ternura, se a sensualidade não se encontra inibida neuroticamente, não atingem a sua intensidade máxima senão quando se realizou um grau suficiente de satisfação das necessidades sexuais.

Na idade madura, as relações sexuais breves não são forçosamente neuróticas. Aqueles ou aquelas que nunca tiveram a coragem ou a força de entrar numa relação desse tipo se encontram sob a pressão de um sentimento de culpabilidade irracional, portanto neurótico.

O maior inconveniente das relações sexuais passageiras reside no fato de não possibilitarem uma adaptação sensual dos parceiros tão completa como na relação duradoura nem, por conseqüência, uma plena satisfação sexual. Do ponto de vista da economia sexual é somente nisso que reside a objeção séria às relações passageiras e o melhor argumento a favor das relações duradouras.

Pessoas incapazes de estabelecerem uma relação sexual duradoura encontram-se condicionadas por uma fixação infantil da sua vida amorosa, ou seja, sofrem de um desarranjo sexual. Neste caso ou os impulsos de ternura encontram-se fixados a qualquer tipo de atração homossexual ou fixados a um ideal imaginário que deprecia e não permite encontrar satisfação nos objetos sexuais reais.

O fundamento inconsciente da promiscuidade continuada e insatisfatória é o medo da ligação a um objeto sexual dada as conotações incestuosas de tal ligação e a inibição concomitante por medo do incesto. Nestes casos de incapacidade de relacionamento duradouro há uma perturbação da potência orgástica e a decepção provocada por cada novo ato sexual impede o aparecimento de uma atração terna conseqüente pelo parceiro.

Quando falamos de ligação duradoura, não pensamos em qualquer período de tempo determinado ou previamente determinável. Do ponto de vista da economia sexual, pode acontecer que esta relação dure semanas, meses, dois ou dez anos. Por outro lado, também não afirmamos que essa relação deva ser monogâmica. Neste domínio não é possível estabelecer normas.

Uma relação sexual satisfatória entre duas pessoas pressupõe que elas tenham procedido a uma harmonização dos seus ritmos sexuais próprios, que tenham aprendido a conhecer as suas necessidades sexuais específicas, raramente conscientes, mas, nem por isso, menos importantes. Só assim será possível uma vida sexual sã.

A aptidão pra uma relação sexual estável requer:
a) Potência orgástica total, ou seja, que não haja dissociação entre a sexualidade terna e a sensualidade;
b) Superação da fixação incestuosa e da ansiedade sexual infantil;
c) Ausência de repressão de quaisquer pulsões não sublimadas, quer sejam homossexuais ou não genitais;
d) Reconhecimento incondicional da sexualidade e do gosto de viver;
e) Superação de todos os elementos do moralismo sexual autoritário;
f) Capacidade de harmonização espiritual com a(o) parceira(o).


A educação familiar em nossa sociedade autoritária favorece:
a) A fixação incestuosa;
b) A inibição da sexualidade infantil, que gera a dissociação entre a sexualidade terna e a sexualidade sensual.

Isso cria nos indivíduos uma estrutura caracterial anti-sexual com tendências pré-genitais e homossexuais que, por sua vez, têm de ser reprimidas, produzindo assim um enfraquecimento da sexualidade.

A maior dificuldade numa relação sexual permanente encontra-se no conflito entre o enfraquecimento do desejo sexual e o crescimento da ternura entre os parceiros.

Em todas as relações sexuais, mais cedo ou mais tarde, surgem períodos de fraca atração sexual ou mesmo de ausência total de desejo.

A atração sexual não se força.

Quanto melhor for o ajustamento dos parceiros na sensualidade e na ternura, menos freqüentes e irreversíveis serão tais episódios.

Todas as pessoas encontram-se constantemente expostas a estímulos sexuais novos provenientes de outros que não o parceiro atual. Tais estímulos não produzem efeito nas melhores fases da relação.

A repressão das necessidades sexuais, seja esta repressão de origem externa ou interna, serve, sobretudo, para exacerbar a sua urgência.

Os estímulos sexuais - que apenas podem ser contrariados “eficazmente” por uma inibição sexual neurótica - despertam em qualquer pessoa sexualmente saudável o desejo de outras parcerias sexuais.

Tais desejos podem ser largamente atenuados ou preenchidos pela satisfação na relação existente. Quanto mais saudável é a pessoa, mais conscientes – isto é, não recalcados – serão esses desejos e, conseqüentemente, mais fáceis de controlar.

Tal controle é tanto menos nocivo quanto menos for determinado por considerações morais e mais subordinado a razões de economia sexual.


INDICADORES SEGUROS DO ENFRAQUECIMENTO DO DESEJO SEXUAL:
a) Diminuição da intensidade do desejo;
b) Diminuição do prazer durante o ato;
c) A relação torna-se um hábito e um dever.


Nessa altura manifesta-se um estado crítico de irritação contra a outra – irritação que se manifesta ou é reprimida - pelo fato de “ela (ou ele)” impedir a satisfação, frustrar, os outros desejos sexuais.

Esse ódio inconsciente torna-se tanto mais intenso quanto mais amável e tolerante for a parceira. Sente-se nela, e mesmo no amor que por ela se tenha, um obstáculo, um peso.

Freqüentemente esse ódio é sobre compensado e camuflado por uma extrema afeição. Essa afeição reativa nascida do ódio e dos sentimentos de culpa concomitantes são as componentes específicas de certa forma de ligação “pegajosa” e tenaz, característica freqüente em pessoas, mesmo não casadas, que não são capazes de separar-se, ainda que efetivamente já não tenham nada a dar-se, sendo a relação entre elas nada mais que uma tortura recíproca, prolongada e inútil.


O enfraquecimento do desejo sensual pode não ser definitivo, mas passa facilmente a sê-lo se:
a) Os parceiros são incapazes de tomar consciência da tensão ou do ódio recíproco;
b) Se rejeitam como inconvenientes e imorais os desejos sexuais sentidos por outras pessoas.

Quando tais fatos são abordados com franqueza, sem distorção nem preconceitos moralizantes, pode-se limitar a extensão do conflito e encontrar para ele uma saída, com a condição de que as manifestações normais de ciúme não se transformem em reivindicações possessivas e se reconheça o caráter natural e legítimo do interesse sexual por outros.


Ninguém pensaria em condenar outra pessoa por não querer usar o mesmo vestuário durante anos, ou por não querer comer todos os dias o mesmo prato. Apenas no domínio sexual a exclusividade da possessão atingiu uma grande significação afetiva e isto em virtude da interpenetração das relações sexuais e de interesses econômicos que ao ciúme natural deu as dimensões de um direito de propriedade.

Uma relação ocasional com outra parceira não favorece senão a relação duradoura que estava em vias de assumir a forma compulsiva do casamento.

Uma dificuldade pode ter graves conseqüências quando não é bem compreendida. Quando a atração sexual diminui ou desaparece, podem manifestar-se perturbações da potência orgástica no homem. Trata-se, na maior parte das vezes, de uma insuficiência de ereção ou mesmo de ausência de ereção, apesar dos estímulos. Se a ternura subsiste ou se existe um receio de impotência, tais situações podem originar uma depressão ou mesmo uma impotência prolongada.

Deverá ter-se em conta que essa deficiência de ereção não constitui impotência, mas apenas uma manifestação de insuficiência de desejo e, em geral, de um desejo por outra mulher.

Se a relação no seu todo é boa, uma discussão franca das causas da perturbação pode sem dificuldade solucionar o problema. Em todo caso é necessário saber esperar. Cedo ou tarde o desejo reaparecerá, se a relação é, no seu conjunto, boa.

Nunca se denunciará o suficiente a influência perniciosa dos nossos preconceitos morais no domínio da sexualidade. A maior parte das pessoas considera o simples fato de pensar sexualmente numa outra pessoa como uma incorreção ou mesmo uma verdadeira infidelidade. No entanto, deveriam saber que tais fatos constituem parte natural da pulsão sexual, que são normais e nada têm a ver com a moral.

A moral sexual meramente defende os interesses de propriedade.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

GENEALOGIA DA MORAL - Friedrich Nietzsche


















Prólogo

1
Nós, que somos homens do conhecimento, não conhecemos a nós próprios; somos de nós mesmos desconhecidos e não sem ter motivo. Nunca nós nos procuramos: como poderia, então que nos encontrássemos algum dia? Com razão alguém disse: "onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração". Nosso tesouro está onde se assentam as colméias do nosso conhecimento. Estamos sempre no caminho para elas como animais alados de nascimento e recolhedores do mel do espírito, nos preocupamos de coração propriamente de uma só coisa - de "levar para casa" algo. No que se refere, por demais, a vida, as denominadas "vivências" - quem de nós tem sequer suficiente seriedade para elas? Ou o suficiente tempo? Jamais temos prestado bem atenção "ao assunto": ocorre precisamente que não temos ali nosso coração - e nem sequer nosso ouvido! Antes bem, assim como um homem divinamente distraído e absorto a quem o sino acaba de estrondear fortemente os ouvidos com suas dozes batidas de meio-dia, e de súbito acorda e se pergunta "o que é que em realidade soou?", assim também nós abrimos às vezes, os ouvidos depois de ocorridas as coisas e perguntamos, surpreendidos e perplexos de tudo, "o que é que em realidade vivemos?, e também " quem somos nós realmente? e nos pomos a contar com atraso, como temos dito, as doze vibrantes campainhas de nossa vivência, de nossa vida, de nosso ser - ah! e nos equivocamos na conta... Necessariamente permanecemos estranhos a nós mesmos, não nos entendemos, temos que nos confundir com outros, e, em nós servirá sempre a frase que disse "cada um é para si mesmo o mais distante" continuamos a nos considerar "homens do conhecimento".

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A ILUSÃO DE SER TUDO ILUSÃO


Esse post surgiu como resposta a um texto enviado a uma lista de discussão sobre projeções da consciência e afins, da qual participo.

- Não existe uma "VERDADE" universal.

- O que morre é o corpo físico. A consciência permanece. O ego de cada encarnação também, trazendo consigo o repositório das experiências vividas naquele período. Sei que muita gente "acredita" nisso, mas uma coisa é acreditar, outra é SABER. 

- Só se aprende vivenciando as situações. Intelectivamente, pelo que observo, só conseguimos guardar informações. Aprendizado mesmo, só vivendo.

- O plano físico é uma notável escola de aprendizado para nós, consciências. Particularmente neste planeta e nos dias atuais, a consciência pode encontrar uma fantástica gama de experiências para vivenciar: desde a felicidade suprema até o mais tétrico sofrimento.

- Os diversos estados políticos em que se divide o planeta, bem como as diversas segmentações sociais em cada um deles e ainda, as diversas interações entre essas partes criam um ambiente impossível no astral, onde as pessoas se reúnem atraídas pelas suas vibrações.

As consciências são livres para escolherem suas experiências, ou antes, deveriam ser, e é aqui que o bicho pega. 

Ocorre que muitos abrem mão de seu direito mais sagrado, a liberdade de escolha, por conta do medo da responsabilidade que isso acarreta. Por isso escolhem agir baseados em ações e valores externos, muitas vezes em total dissonância com os seus verdadeiros anseios. 

Só esquecem de uma coisa fundamental: agindo, seja motivado por valores pessoais ou pelo dos outros, as conseqüências dessas ações sempre se refletem na pessoa.

Agindo para atender a expectativas alheias, há mais um agravante: o que queríamos fazer e deixamos, também se reflete em nós.

Pra que todo esse texto? É que o texto postado pelo nosso colega é bem daquela linha: faça isso e você vai se poupar de muito sofrimento. Isso é verdade, mas é mentira também.

- Carlos R Nazaré –


Texto que deu origem ao post:

A ILUSÃO DO REFLEXO
Redação do Momento Espírita

http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=1659&let=I&stat=0
Conta-se que um pai deu a sua filha um colar de diamantes de alto preço. 
Misteriosamente, alguns dias depois o colar desapareceu. Falou-se que poderia ter sido furtado. Outros afirmaram que talvez um pássaro tivesse sido atraído pelo seu brilho e o levado embora.
Fosse como fosse, o pai desejava ter o colar de volta e ofereceu uma grande recompensa a quem o devolvesse: R$ 50.000,00.
A notícia se espalhou e, naturalmente, todos passaram a desejar encontrar o tal colar. Um rapaz que passava por um lago, próximo a uma área industrial, viu um brilho no lago. Colocou a mão para proteger os olhos do sol e certificou-se: era o colar. O lago, entretanto, era muito sujo, poluído, e cheirava mal. O rapaz pensou na recompensa. Vencendo o nojo, colocou a mão no lago, tentando apanhar a jóia. Pareceu pegá-la, mas sentiu escapulir das suas mãos. Tentou outra vez. Outra mais. Sem sucesso.
Resolveu entrar no lago. Emporcalhou toda sua calça e mergulhou o braço inteiro no lago.
Ainda sem sucesso. O colar estava ali. Mas ele não conseguia agarrá-lo. Toda vez que mergulhava o braço, ele parecia sumir. Saiu do lago e estava desistindo, quando o brilho do colar o atraiu outra vez. Decidiu mergulhar de corpo inteiro. Ficou imundo, cheirando mal. E ainda nada conseguiu. Deprimido por não conseguir apanhar o colar e conseqüentemente, a recompensa polpuda, estava se retirando, quando um velho passou por ali.
O que está fazendo, meu rapaz?
O moço desconfiou dele e não quis dizer qual o seu objetivo. Afinal, aquele homem poderia conseguir apanhar o colar e ficar com o dinheiro da recompensa. O velho tornou a perguntar, e prometeu não contar a ninguém.
Considerando que não conseguia mesmo apanhar o colar, cansado, irritado pelo fracasso, o rapaz falou do seu objetivo frustrado. Um largo sorriso desenhou-se no rosto do interlocutor.
Seria interessante, falou em seguida, que você olhasse para cima, em vez de somente para dentro do lago.
Surpreso, o moço fez o recomendado. E lá, entre os galhos da árvore, estava o colar brilhando ao sol.
O que o rapaz via no lago era o reflexo dele. A felicidade material se assemelha ao reflexo do colar no lago imundo. Na conquista de posses efêmeras, quase sempre mergulhamos no lodo das paixões inconseqüentes.
A verdadeira felicidade, no entanto, não está nas posses materiais, nem no gozo dos prazeres.
Ela reside na intimidade do ser. Nada ruim em se desejar e batalhar por uma casa melhor, um bom carro, roupas adequadas às estações, uma refeição deliciosa. Nada ruim em desejar termos coisas. A forma como as conquistamos é que fará a grande diferença.
Se para as conseguir, necessitamos entrar no lodaçal da corrupção, da mentira, da indignidade, somente sairemos enlameados, e infelizes. Esse tipo de felicidade é como o reflexo do colar na água: pura ilusão.
Somente existe verdadeira felicidade nas conquistas que a honra dignifica, que a consciência não nos acusa.
Pensemos nisso. E, antes de sairmos à cata desesperada de valores materiais expressivos, analisemos o que necessitamos dar em troca. Porque nada vale que mereça sacrificar a honra, a dignidade pessoal, a
auto-estima, a vida espiritual.
Tudo é passageiro na Terra. Lembre disso.