(notas de leitura – Carlos Roberto Nazaré)
A estrutura sexual humana sofreu uma degenerescência sob o efeito da moral compulsiva.
“Para o inconsciente dos indivíduos aterrorizados com a sexualidade, a certidão de casamento não é senão uma licença para terem relações sexuais.”
Solução:
a) Eliminação dos sentimentos de culpabilidade relativos à sexualidade;
b) Substituição da moralidade compulsiva exterior pela responsabilidade interior e pessoal.
O casamento sob a atual forma compulsiva é o resultado de um compromisso entre interesses econômicos e interesses sexuais.
Os interesses sexuais não se reduzem a relações sexuais com uma única pessoa por toda a vida e à procriação.
A relação radicada em necessidades sexuais tende a tornar-se duradoura.
A relação radicada em interesses econômicos e na posição da mulher e dos filhos na sociedade tende para o casamento compulsivo indissolúvel.
RELAÇÃO SEXUAL DURADOURA – condições sociais necessárias para sua ocorrência:
a) Independência econômica da mulher;
b) Educação das crianças pela sociedade;
c) Não interferência de interesses econômicos.
Ocasionalmente podem ocorrer relações temporárias e de caráter predominantemente sensual com terceiros.
A promiscuidade sexual é caracterizada pela relação sexual temporária desprovida de qualquer fundamento emocional e com caráter mercenário.
A relação sexual passageira, seja a relação de uma hora ou de uma noite, difere da relação duradoura pela ausência generalizada de ternura para com a(o) parceira(o).
Os dois elementos fundamentais da relação sexual natural são:
1) Gratidão pelo prazer sexual do passado;
2) Vínculo sexual e emotivo radicado no prazer que se espera vir a fruir no futuro.
O resultado é uma afeição sexual de experiências sensuais tidas em comum.
Uma ligação devida à insatisfação sexual consiste em uma sobrevalorização do parceiro com origem numa inibição sensual e numa expectativa inconsciente de uma determinada forma de satisfação sexual. Transforma-se facilmente em ódio.
As atitudes de ternura, se a sensualidade não se encontra inibida neuroticamente, não atingem a sua intensidade máxima senão quando se realizou um grau suficiente de satisfação das necessidades sexuais.
Na idade madura, as relações sexuais breves não são forçosamente neuróticas. Aqueles ou aquelas que nunca tiveram a coragem ou a força de entrar numa relação desse tipo se encontram sob a pressão de um sentimento de culpabilidade irracional, portanto neurótico.
O maior inconveniente das relações sexuais passageiras reside no fato de não possibilitarem uma adaptação sensual dos parceiros tão completa como na relação duradoura nem, por conseqüência, uma plena satisfação sexual. Do ponto de vista da economia sexual é somente nisso que reside a objeção séria às relações passageiras e o melhor argumento a favor das relações duradouras.
Pessoas incapazes de estabelecerem uma relação sexual duradoura encontram-se condicionadas por uma fixação infantil da sua vida amorosa, ou seja, sofrem de um desarranjo sexual. Neste caso ou os impulsos de ternura encontram-se fixados a qualquer tipo de atração homossexual ou fixados a um ideal imaginário que deprecia e não permite encontrar satisfação nos objetos sexuais reais.
O fundamento inconsciente da promiscuidade continuada e insatisfatória é o medo da ligação a um objeto sexual dada as conotações incestuosas de tal ligação e a inibição concomitante por medo do incesto. Nestes casos de incapacidade de relacionamento duradouro há uma perturbação da potência orgástica e a decepção provocada por cada novo ato sexual impede o aparecimento de uma atração terna conseqüente pelo parceiro.
Quando falamos de ligação duradoura, não pensamos em qualquer período de tempo determinado ou previamente determinável. Do ponto de vista da economia sexual, pode acontecer que esta relação dure semanas, meses, dois ou dez anos. Por outro lado, também não afirmamos que essa relação deva ser monogâmica. Neste domínio não é possível estabelecer normas.
Uma relação sexual satisfatória entre duas pessoas pressupõe que elas tenham procedido a uma harmonização dos seus ritmos sexuais próprios, que tenham aprendido a conhecer as suas necessidades sexuais específicas, raramente conscientes, mas, nem por isso, menos importantes. Só assim será possível uma vida sexual sã.
A aptidão pra uma relação sexual estável requer:
a) Potência orgástica total, ou seja, que não haja dissociação entre a sexualidade terna e a sensualidade;
b) Superação da fixação incestuosa e da ansiedade sexual infantil;
c) Ausência de repressão de quaisquer pulsões não sublimadas, quer sejam homossexuais ou não genitais;
d) Reconhecimento incondicional da sexualidade e do gosto de viver;
e) Superação de todos os elementos do moralismo sexual autoritário;
f) Capacidade de harmonização espiritual com a(o) parceira(o).
A educação familiar em nossa sociedade autoritária favorece:
a) A fixação incestuosa;
b) A inibição da sexualidade infantil, que gera a dissociação entre a sexualidade terna e a sexualidade sensual.
Isso cria nos indivíduos uma estrutura caracterial anti-sexual com tendências pré-genitais e homossexuais que, por sua vez, têm de ser reprimidas, produzindo assim um enfraquecimento da sexualidade.
A maior dificuldade numa relação sexual permanente encontra-se no conflito entre o enfraquecimento do desejo sexual e o crescimento da ternura entre os parceiros.
Em todas as relações sexuais, mais cedo ou mais tarde, surgem períodos de fraca atração sexual ou mesmo de ausência total de desejo.
A atração sexual não se força.
Quanto melhor for o ajustamento dos parceiros na sensualidade e na ternura, menos freqüentes e irreversíveis serão tais episódios.
Todas as pessoas encontram-se constantemente expostas a estímulos sexuais novos provenientes de outros que não o parceiro atual. Tais estímulos não produzem efeito nas melhores fases da relação.
A repressão das necessidades sexuais, seja esta repressão de origem externa ou interna, serve, sobretudo, para exacerbar a sua urgência.
Os estímulos sexuais - que apenas podem ser contrariados “eficazmente” por uma inibição sexual neurótica - despertam em qualquer pessoa sexualmente saudável o desejo de outras parcerias sexuais.
Tais desejos podem ser largamente atenuados ou preenchidos pela satisfação na relação existente. Quanto mais saudável é a pessoa, mais conscientes – isto é, não recalcados – serão esses desejos e, conseqüentemente, mais fáceis de controlar.
Tal controle é tanto menos nocivo quanto menos for determinado por considerações morais e mais subordinado a razões de economia sexual.
INDICADORES SEGUROS DO ENFRAQUECIMENTO DO DESEJO SEXUAL:
a) Diminuição da intensidade do desejo;
b) Diminuição do prazer durante o ato;
c) A relação torna-se um hábito e um dever.
Nessa altura manifesta-se um estado crítico de irritação contra a outra – irritação que se manifesta ou é reprimida - pelo fato de “ela (ou ele)” impedir a satisfação, frustrar, os outros desejos sexuais.
Esse ódio inconsciente torna-se tanto mais intenso quanto mais amável e tolerante for a parceira. Sente-se nela, e mesmo no amor que por ela se tenha, um obstáculo, um peso.
Freqüentemente esse ódio é sobre compensado e camuflado por uma extrema afeição. Essa afeição reativa nascida do ódio e dos sentimentos de culpa concomitantes são as componentes específicas de certa forma de ligação “pegajosa” e tenaz, característica freqüente em pessoas, mesmo não casadas, que não são capazes de separar-se, ainda que efetivamente já não tenham nada a dar-se, sendo a relação entre elas nada mais que uma tortura recíproca, prolongada e inútil.
O enfraquecimento do desejo sensual pode não ser definitivo, mas passa facilmente a sê-lo se:
a) Os parceiros são incapazes de tomar consciência da tensão ou do ódio recíproco;
b) Se rejeitam como inconvenientes e imorais os desejos sexuais sentidos por outras pessoas.
Quando tais fatos são abordados com franqueza, sem distorção nem preconceitos moralizantes, pode-se limitar a extensão do conflito e encontrar para ele uma saída, com a condição de que as manifestações normais de ciúme não se transformem em reivindicações possessivas e se reconheça o caráter natural e legítimo do interesse sexual por outros.
Ninguém pensaria em condenar outra pessoa por não querer usar o mesmo vestuário durante anos, ou por não querer comer todos os dias o mesmo prato. Apenas no domínio sexual a exclusividade da possessão atingiu uma grande significação afetiva e isto em virtude da interpenetração das relações sexuais e de interesses econômicos que ao ciúme natural deu as dimensões de um direito de propriedade.
Uma relação ocasional com outra parceira não favorece senão a relação duradoura que estava em vias de assumir a forma compulsiva do casamento.
Uma dificuldade pode ter graves conseqüências quando não é bem compreendida. Quando a atração sexual diminui ou desaparece, podem manifestar-se perturbações da potência orgástica no homem. Trata-se, na maior parte das vezes, de uma insuficiência de ereção ou mesmo de ausência de ereção, apesar dos estímulos. Se a ternura subsiste ou se existe um receio de impotência, tais situações podem originar uma depressão ou mesmo uma impotência prolongada.
Deverá ter-se em conta que essa deficiência de ereção não constitui impotência, mas apenas uma manifestação de insuficiência de desejo e, em geral, de um desejo por outra mulher.
Se a relação no seu todo é boa, uma discussão franca das causas da perturbação pode sem dificuldade solucionar o problema. Em todo caso é necessário saber esperar. Cedo ou tarde o desejo reaparecerá, se a relação é, no seu conjunto, boa.
Nunca se denunciará o suficiente a influência perniciosa dos nossos preconceitos morais no domínio da sexualidade. A maior parte das pessoas considera o simples fato de pensar sexualmente numa outra pessoa como uma incorreção ou mesmo uma verdadeira infidelidade. No entanto, deveriam saber que tais fatos constituem parte natural da pulsão sexual, que são normais e nada têm a ver com a moral.
A moral sexual meramente defende os interesses de propriedade.
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