domingo, 23 de janeiro de 2011

Criatividade em vez de dietas


Seus dentes são a sua violência condensada. Quando não pode usá-los, o único modo disponível para um homem civilizado é continuar a comer, continuar a se empanturrar. Uma pessoa criativa nunca é um comilão.

E quando alguém vem a mim e diz: "Como deixar de comer? Como parar? Porque agora o corpo está ficando feio, está juntando muita gordura. O que fazer para parar?". Minha sugestão é que, a menos que você se torne criativo, não pode parar de engordar.

Fazer dieta não ajudará; cedo ou tarde você começará a comer novamente por vingança. A menos que suas energias fiquem criativas, você continuará assim; continuará a empanturrar-se.

(...)
Criatividade não tem nada a ver com nenhum tipo de atividade especial, com pintura, poesia, dança, canto — não tem nada a ver com nada em especial. Qualquer coisa pode ser criativa; é você que confere essa qualidade à atividade.

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A pessoa criativa é aquela que tem introspecção, que consegue ver coisas que nenhuma outra viu antes, que ouve coisas que ninguém ouviu antes - nela, sim, há criatividade.

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A criatividade significa simplesmente que você está em estado de relaxamento total. Não significa inação, mas sim relaxamento - porque, com o relaxamento, ocorre muita ação. 

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Qualquer coisa que você faça, se a fizer com alegria, se a fizer com amor, se a sua razão de fazê-la não for puramente econômica, ela será criativa. Se algo cresce demais dentro de seu ser, se ele o faz crescer, ele é espiritual, ele é criativo, ele é divino.

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A criatividade é uma fragância da verdadeira saúde. Quando a doença desaparece,todo mundo se torna criador.
Deixe que isso seja entendido tão profundamente quanto possível: só as pessoas doentes são destrutivas.
As pessoas saudáveis são criativas. Criatividade é um tipo de fragrânciada verdadeira saúde. Quando uma pessoa é realmente saudável e íntegra, a criatividade vem naturalmente a ela, surge o desejo de criar.

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Simone de Beauvoir disse: "A vida se ocupa com a própria perpetuação e a superação de si mesma; se tudo que ela faz é manter a si mesma, então viver é apenas não morrer." E o homem que não é criativo está apenas não morrendo, só isso. Sua vida não tem profundidade. Sua vida ainda não é vida, mas apenas um prefácio; seu livro da vida ainda não começou a ser escrito. Ele nasceu, é verdade, mas ainda não está vivo.


Osho – vários textos – releitura: Rigel

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Jornada da Alma


Imaginemos uma pessoa: um médico cirurgião muito talentoso em sua especialidade, com uma vida bem estruturada, desenvolvendo seu trabalho e seus estudos com competência, ensinando a outros o ofício.
Sem maiores explicações essa pessoa acorda um dia no meio de uma comunidade rural isolada na china. Completamente sem memória e sem nada que o ajude a se recordar e frente as necessidades imediatas de sobrevivência, ele não tem outra opção além de procurar interagir com o meio em que se encontra para garantir abrigo, alimentação e demais necessidades que o físico impõe. Tem de aprender a entender e falar a língua local  e se comunicar com as pessoas desse lugar. Depois de alguns anos vamos encontrar nosso cirurgião vivendo adaptado ao novo local, falando chinês, cultivando o solo, participando dos valores locais. Eventualmente, ele pode sentir-se deslocado ali, mas não consegue entender o motivo nem tem muito tempo ou disposição para isso frente as desgastantes necessidades diárias para sobreviver.
Embora tenha esquecido sua medicina, ele descobre que tem uma grande intuição para tratar pessoas doentes... mais alguns anos e temos nosso médico com uma perfeita personalidade chinesa tanto no pensar quanto no agir, embora ainda assombrado por idéias e imagens que não se explicam pelo seu viver diário. Nosso médico agora tem um ego chinês puro, formado por suas relações com esse novo meio e também pelo fato dele ter perdido totalmente sua memória, de ter se esquecido quem realmente era.
Mais um ato sem explicações e eis que nosso médico, depois de mais alguns anos, é encontrado e levado de volta para seu antigo lar no ocidente com sua memória totalmente recuperada. De volta ao lar, ele agora é mais do que quando partiu. Embora sua essência não tenha mudado, ela agora incorpora sua experiência no outro país, sua percepção se ampliou e aquele ego que ele formou naquela experiência não foi destruído mas agora, e para sempre, fará parte de seu ser.
Essa é a síntese das aventuras de nossa consciência em suas varias manifestações nesse e em outros planos, em sua infinita curiosidade de tudo aprender. Em cada vida tendo sua manifestação limitada pela mesologia e influenciada por suas ações e lembranças passadas, mas sempre aprendendo alguma coisinha.
O complicado é que são muitas as exigências desse plano em nossa sociedade moderna, de forma que acabamos quase que totalmente focados nele em nossas tarefas diárias e terminamos por não termos tempo ou animo para pararmos um pouco e mudarmos nossa percepção para outras partes de nós mesmos que vão muito além do que está aqui a nossa primeira vista.


Carlos R. Nazaré

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Torre



Síntese: Alerta para necessidade de mudanças pessoais. Abandonar o antigo e rígido modo de vida, para ceder espaço para a maleabilidade como via de acesso ao nosso rico universo interior.

O raio de consciência emanado do Self da pessoa atinge sua torre interior:

No campo emocional: Crise existencial; sensação de insegurança quanto ao futuro; falta de sentido na vida, pedindo o enfrentamento das emoções aprisionadoras como primeiro passo para um novo começo.

No campo mental: Questionamento dos valores até então tidos como verdades absolutas, indicando a necessidade de ruptura com velhos conceitos e padrões de pensamento para conquistar um novo olhar sobre a Vida.   

No campo físico: doenças; acidentes; relações e relacionamentos que terminam; o mundo pessoal, conhecido e seguro, subitamente desmorona, indicando a necessidade de seguir um novo curso, mas só depois que os aspectos estagnantes do campo emocional e mental estiverem resolvidos, antes disso tal ação indica uma fuga dos desafios, uma tentativa de reerguer a velha torre.

A imagem da torre, no arcano 16 do tarô, é usada como um paralelismo para as construções psíquicas que fazemos em nossa vida para nos protegermos, mas que acabam por nos isolar de nossa verdadeira essência e também das demais pessoas. É outra forma de representar nossa persona, a máscara que montamos para sermos aceitos na sociedade normótica. Máscara que nos esconde e nos protege dos demais mas que termina por nos esconder também de nós mesmos.
Na maioria dos diferentes tarôs, vemos uma torre sem portas, pouco convidativa a visitas. Não há abertura para uma interferência externa. As janelas só servem para quem está dentro apreciar uma parte do campo ao seu redor, ou seja, um isolamento quase total.

A criança que se encolhe tentando se proteger, chorando assustada com a violência do mundo a seu redor, materializa o arcano da torre em seu corpo e lança os alicerces psíquicos de sua torre interior. Nesse momento sua espontaneidade começa a dar lugar à busca pela segurança. Um corpo morto, encerrado em seu caixão, é a materialização física final do arcano da torre e da pessoa por ela protegida: ela não teme mais nada, não sofre mais, mas também não vive.

O arcano da torre em nossas vidas nos traz a segurança dos espaços psíquico e físico que delimitamos e cercamos para viver. Mas a Vida fenece rápido em espaços confinados e não há muita vida numa torre. Surge uma insatisfação intima com nosso modo de viver seguro, porém sem vida. Essa energia começa a corroer a estrutura de nossas muralhas internas, mas isso não é suficiente. Nosso ego não tem força para, sozinho, derrotar sua própria criação. Mas chega um momento em que, do ponto mais profundo de nosso ser, nosso desejo de mudança atraí a energia que precisamos para romper de vez com as barreiras internas que nós mesmos levantamos. O raio, a energia psíquica de nosso Self, atinge a estrutura de nossas barreiras. Nesse momento a torre desaba. De um instante para outro, somos lançados num abismo momentâneo, uma desestruturação ocorre em nossa vida, nos dando a oportunidade de começar novamente. É um momento precioso e delicado esse. Precisamos de todo cuidado, para não repetirmos os erros do passado e reconstruirmos a mesma torre.


Carlos R Nazaré