Imaginemos uma pessoa: um médico cirurgião muito talentoso em sua especialidade, com uma vida bem estruturada, desenvolvendo seu trabalho e seus estudos com competência, ensinando a outros o ofício.
Sem maiores explicações essa pessoa acorda um dia no meio de uma comunidade rural isolada na china. Completamente sem memória e sem nada que o ajude a se recordar e frente as necessidades imediatas de sobrevivência, ele não tem outra opção além de procurar interagir com o meio em que se encontra para garantir abrigo, alimentação e demais necessidades que o físico impõe. Tem de aprender a entender e falar a língua local e se comunicar com as pessoas desse lugar. Depois de alguns anos vamos encontrar nosso cirurgião vivendo adaptado ao novo local, falando chinês, cultivando o solo, participando dos valores locais. Eventualmente, ele pode sentir-se deslocado ali, mas não consegue entender o motivo nem tem muito tempo ou disposição para isso frente as desgastantes necessidades diárias para sobreviver.
Embora tenha esquecido sua medicina, ele descobre que tem uma grande intuição para tratar pessoas doentes... mais alguns anos e temos nosso médico com uma perfeita personalidade chinesa tanto no pensar quanto no agir, embora ainda assombrado por idéias e imagens que não se explicam pelo seu viver diário. Nosso médico agora tem um ego chinês puro, formado por suas relações com esse novo meio e também pelo fato dele ter perdido totalmente sua memória, de ter se esquecido quem realmente era.
Mais um ato sem explicações e eis que nosso médico, depois de mais alguns anos, é encontrado e levado de volta para seu antigo lar no ocidente com sua memória totalmente recuperada. De volta ao lar, ele agora é mais do que quando partiu. Embora sua essência não tenha mudado, ela agora incorpora sua experiência no outro país, sua percepção se ampliou e aquele ego que ele formou naquela experiência não foi destruído mas agora, e para sempre, fará parte de seu ser.
Essa é a síntese das aventuras de nossa consciência em suas varias manifestações nesse e em outros planos, em sua infinita curiosidade de tudo aprender. Em cada vida tendo sua manifestação limitada pela mesologia e influenciada por suas ações e lembranças passadas, mas sempre aprendendo alguma coisinha.
O complicado é que são muitas as exigências desse plano em nossa sociedade moderna, de forma que acabamos quase que totalmente focados nele em nossas tarefas diárias e terminamos por não termos tempo ou animo para pararmos um pouco e mudarmos nossa percepção para outras partes de nós mesmos que vão muito além do que está aqui a nossa primeira vista.
Carlos R. Nazaré
Carlos R. Nazaré
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